Representantes de pelo menos 60 blocos realizam hoje, a primeira das duas reuniões que definirão a criação da Liga de Blocos Afros de Salvador – a segunda está marcada para o dia 28. O grupo, que concluiu o curso de treinamento em gestão cultural feito em parceria com a Secretaria de Cultura do Estado (Secult) e o Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), além da criação da entidade, a partir de modelos de organização como a Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, tem quatro outros grandes objetivos.
São eles: a criação de uma central de comunicação , uma espécie de central de carnaval que englobaria a venda de ingressos, fantasias, além de uma rádio web para divulgar os trabalhos comunitários que realizam; a criação de um espaço de ensaios coletivos; o desenvolvimento de um projeto de apresentações em festas populares (Conceição, Iemanjá, Lapinha e Santa Bárbara) e a realização do de um festival anual de música negra, previsto para setembro de 2010.
Paulo Cambuí, representante do Blocão da Liberdade, está entusiasmado com o movimento que pretende organizar os 117 blocos de matriz africana (afoxés, blocos de índio, blocos afro, blocos de samba, blocos de percussão e blocos de reggae), cadastrados no programa Carnaval Ouro Negro, iniciado em 2008 pela Secult:
- Nosso objetivo é trabalhar num sistema de colaboração e não de competição para que possamos ter força, representatividade e mais visibilidade no carnaval de Salvador. Vamos buscar novas formas de financiamento e exigir mais respeito das autoridades municipais, que investe muito pouco no carnaval dos blocos afros.
De acordo com Cambuí, 70 entidades estão envolvidas na primeira fase de criação da Liga, que priorizará as particularidades do carnaval baiano.
- Nosso carnaval tem particularidades e problemas específicos. Não é só criar uma central de comunicação, precisamos de mais mídias, de mais divulgação. Também queremos que haja mais investimento na decoração da cidade. Outra prioridade é o resgate de elementos dos carnavais do passado, como as “mudanças”, que existiam por toda a cidade e hoje só sobrevive a do Garcia. Ajudar na recuperação de blocos como o Magnatas, que está voltando a desfilar na Federação e até fundir associações para fortalecê-las estão em nossos planos. Para fazer tudo isso, precisamos de um modelo de gestão próprio, sem copiar ninguém – explica o líder do Blocão, criado em 1993.
O primeiro encontro do grupo será às 15 horas de hoje, no Sebrae, na Avenida Sete de Setembro. A segunda reunião ocorre dia 28, na Secretaria Estadual de Cultura.
Ouro Negro - O processo que desemboca na tentativa de maior organização dos blocos afros de Salvador começou em 2007/2008, com o programa Ouro Negro, que disponibiliza R$ 4,6 milhões anuais– as verbas distribuídas de acordo com critérios como antiguidade e número de foliões variam de R$ 15 mil a R$ 100 mil por entidade. Pesquisa realizada pela Secretaria Estadual de Cultura revelou que a entidades afros eram as que mais criavam empregos diretos – os trios optam por serviços terceirizados – e as que mais atraiam a atenção dos turistas estrangeiros (35% do total).
No entanto, outros dados mostravam a fragilidade desses grupos: 97% das agremiações eram instituições sem fins lucrativos, dependentes de verbas públicas, e apresentavam problemas organizacionais, tendo dificuldades para prestar contas de suas despesas, o que era frequentemente contestado pelo Ministério Público. Diante disso, além de garantir verbas para os desfiles, a secretaria de Cultura estabeleceu diretrizes para potencializar a capacidade gerencial dos gestores dos blocos. Uma delas foi a parceria feita com o Sebrae:
- Fomos convidados para participar do processo, a partir das dificuldades que alguns grupos tiveram na prestação de contas do carnaval de 2008. Nossa missão era elaborar um programa de capacitação, que destacasse a importância de cooperação entre os blocos e a busca de apoio e novos financiamentos – explica a supervisora de projetos da carteira de economia criativa do Sebrae, Luciana Santana.
Em agosto de 2009, foi montada a primeira turma, com representantes de 60 das agremiações cadastradas no Carnaval Ouro Negro. Consultores cariocas e baianos participaram da organização e de palestras em cinco módulos do curso (planejamento estratégico, elaboração de projetos, formas de financiamento nacionais e internacionais, produção de eventos e prestação de contas) e discutiram modelos associativos de entidades carnavalescas bem sucedidas no Brasil.
- Logo na primeira etapa, eles propuseram a criação de uma Liga e os demais projetos, que têm todas as condições para se concretizarem., explica a consultora Rosa Vilas Boas, responsável pelo treinamento em gestão cultural.
Rosa também mostrou aos participantes como se preparar para obtenção de recursos. Segundo ela, só a Comunidade Européia oferece 1,5 milhão de euros (R$ 3,8 milhões) por três anos para projetos estruturantes de entidades negras e indígenas.
- Tenho certeza que se houver a união em forma de cooperativa, todos os projetos dos blocos afros serão realizados – prevê a consultora.
Secretário - Entusiasmado com o desenvolvimento do programa, o secretário estadual de Cultura, Márcio Meirelles espera que o projeto de criação da Liga dos Blocos Afros seja bem sucedida:
- Temos que esperar que o diálogo entre as entidades se concretize. Ajudamos na busca a sustentabilidade apoiamos a criação da Liga, que deve servir de ponto de partida para que os blocos busquem outros investimentos. Assim, poderemos aplicar as verbas do Carnaval Ouro Negro para desenvolver outros blocos de matrizes africanas em outras cidades baianas. Já estamos ampliando o projeto para os que participam da micareta de Feira de Santana e para o carnaval de Maragogipe.